10/09/2025 - O Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) prestigiou, nesta quarta (10/09), em Campinas (SP), a inauguração de uma nova fábrica da Indústria Fox, que deverá ser a maior unidade recicladora e de remanufatura de eletroeletrônicos e itens de informática da América Latina.
A fábrica se destaca por seu foco na economia circular e mineração urbana, buscando um modelo de “aterro zero”, removendo a maior quantidade possível de resíduos dos aterros sanitários e transformando-os em novos produtos ou matérias-primas.
O projeto tem investimento de R$ 170 milhões, um galpão de 40 mil metros quadrados e capacidade processual de 100 mil toneladas de resíduos eletrônicos, gerando 200 empregos diretos na fase de instalação, com planos de ampliar a 500 nos próximos anos.
A empresa atua na reciclagem (transformando um produto descartado em matéria-prima) e remanufatura (quando um produto usado é restaurado em condições de um item novo, mantendo sua estrutura e função originais), o que engloba desde linha branca e de refrigeração (máquinas de lavar, secadoras, fogões, fornos, geladeiras, aparelhos de ar-condicionado) até eletrônicos e itens de informática (como micro-ondas, ventiladores, aspiradores de pó, computadores e impressoras).
É um sonho grande, como eu gosto de dizer, mas meu time e eu acreditamos que estamos escrevendo uma história. Estamos focados em mineração urbana, em uma nova indústria, uma nova economia, que circula valor sem a necessidade de input de novos materiais”, disse o CEO da empresa, Marcelo Souza.
Ele conta que, nos últimos 15 anos, o tema da economia circular está cada vez mais presente na sociedade.
Sociedade 4.0
O presidente do Ciesp, Rafael Cervone, afirmou que há uma mudança de mentalidade em curso alinhada com o conceito de produção “cradle to cradle” (do berço ao berço), que prevê que um produto seja projetado desde o início, para que no final de sua vida útil, todos os seus componentes possam ser reutilizados ou reciclados de forma segura.
A gente começa a engenharia de produto pensando em sua utilização final e no seu ressignificado. Agora, as engenharias estão com esse foco e repensando novas possibilidades”, disse Cervone.
Ele também avalia que a evolução da economia circular tem ocorrido de forma rápida e frisou que os números da Fox são impressionantes, visto que 850 mil itens já foram ressignificados, com novo propósito, e mais 150 mil produtos reciclados.
Nós temos que difundir esse conceito para uma sociedade que sai da manufatura avançada, da indústria 4.0, para a sociedade 4.0”, disse o presidente do Ciesp.
O conceito de sociedade 4.0 se refere à uma nova fase da civilização, que se relaciona também a como a tecnologia muda a estrutura da sociedade e a forma como interagimos com o mundo ao nosso redor.
O diretor regional do Ciesp em Campinas, José Henrique Toledo Corrêa, frisou que Campinas é um dos pólos fabricantes de eletroeletrônicos do Brasil e que é uma das regiões reconhecidas pelos projetos de sustentabilidade.
Para ele, uma das várias vantagens de ter a nova fábrica será a sensibilização.
As indústrias da nossa região são reconhecidas por projetos de sustentabilidade. Quando você tem uma empresa com o porte de 40 mil metros quadrados de área construída para se dedicar, especificamente, a este tema da economia circular, num momento em que o mundo precisa se reciclar, se renovar, nós passamos a olhar de forma diferente para os nossos eletroeletrônicos”, disse Toledo.
Sociedade e governos
Liv Nakashima, diretora de Gestão Corporativa e Sustentabilidade da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), ligada ao Governo do Estado, lembra que os paulistas foram pioneiros em economia circular.
O Estado de São Paulo é precursor na implantação da economia circular no Brasil. Nós começamos com a economia circular por meio de acordos voluntários com os setores, sempre avaliando a capacidade técnico-financeira. Sem essas soluções, não seria possível a gente avançar com a regulamentação [da economia circular] no estado de São Paulo”, destacou Liv Nakashima.
Em 2012, a Cetesb começou a reforçar o seu papel na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (que é de 2010), com conceitos como a logística reversa, iniciando pelos eletrônicos, em especial celulares. Em 2017, houve uma expansão que abrangeu a linha branca.
Na sua opinião, o fato de a Fox ter surgido dois anos antes da formalização da economia circular no estado mostra que a regulamentação precisa caminhar juntamente com as soluções para que a cadeia possa se manter regular, tornando-se “sustentável de maneira viável”.
Para Liv, para engajar o consumidor na economia circular é importante que prefeituras e o Estado sigam trabalhando a educação ambiental, enquanto fabricantes cumpram o seu papel de informar sobre seus produtos e a forma adequada de descarte.
A diretora do Departamento de Novas Economias do Ministério do Desenvolvimento Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Sissi Alves da Silva, lembrou que o Plano Nova Industria Brasil, lançado em janeiro de 2023, pelo Governo Lula, prevê missões, como o desenvolvimento de bioeconomia, descarbonização e transição energética com segurança.
Também no ano passado, foi criada, por meio de um decreto presidencial, a Enec (Estratégia Nacional de Economia Circular) com diretrizes sobre o tema.
O próximo passo é o desenvolvimento do Plano Nacional de Economia Circular, com participação ativa da indústria, trazendo a parte prática e operacional. O engajamento da indústria é considerado fundamental para o sucesso da iniciativa, segundo Sissi. O plano já foi à consulta pública, teve 1.627 contribuições e prevê 71 ações, que estão sendo priorizadas de acordo com o posicionamento dos setores.
A gente entende que a economia circular é uma oportunidade única de desenvolvimento industrial que pode promover a resiliência e a eficiência produtiva, além de abrir novos modelos de negócio, gerar mais empregos qualificados e promover a responsabilidade sócioambiental”, disse a diretora do MDIC.