17/06/2025 - Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), manifesta grande preocupação com a manutenção da política de juros elevados. Por isso, espera que o Comitê de Política Monetária (Copom), mais do que a estabilidade da Selic em 14,75%, como sinaliza o mercado no Boletim Focus desta segunda-feira (16/06), anuncie o início de um ciclo de redução, em sua quarta reunião do ano, que se encerra nesta quarta-feira (18/06).
As taxas exageradas já se refletem no emprego em nosso setor, que recuou 0,4% em abril, a primeira queda em 18 meses. Também impactam nas horas trabalhadas, que apresentaram redução de 0,3%”, enfatiza Cervone. Para ele, esses dados, divulgados, em 6 de junho, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), acendem um sinal de alerta. "O indicador de emprego costuma reagir de maneira lenta e gradual ao cenário econômico. Por isso, uma queda mensal de 0,4% é muito significativa e sinaliza uma desaceleração da indústria”, explica.
Trocar postos de trabalho formais por juros altos não é uma política sensata para um país que ainda convive com cerca de sete milhões de desempregados e aproximadamente 60 milhões de pessoas em situação de pobreza, conforme dados do IBGE”, pondera o presidente do Ciesp. A retração do emprego industrial, da carga de trabalho e da utilização do parque manufatureiro ocorre em um ambiente de juros exagerados. “Não é mera coincidência. Ainda assim, o Copom optou por manter a Selic elevada em maio, quando a taxa chegou a 14,75%, o maior nível em quase 20 anos. Esperamos que comece a cair”, salienta.
Por que os juros altos prejudicam mais a indústria
A política de juros elevados tem efeitos negativos sobre toda a economia, mas seu impacto sobre a indústria é particularmente severo por diversos motivos estruturais e conjunturais. O primeiro deles é porque o setor depende muito de crédito para investimento e capital de giro.
Máquinas, equipamentos, inovação e modernização tecnológica exigem financiamentos de médio e longo prazos. Com juros altos, o custo desses financiamentos torna-se proibitivo, desestimulando a expansão da capacidade produtiva e a atualização do parque industrial”, frisa Cervone.
Além disso, as taxas elevadas encarecem o custo do capital de giro, essencial para manter estoques, comprar insumos e pagar salários. Isso afeta especialmente pequenas e médias indústrias, que têm menos acesso à crédito em condições favoráveis. Em consequência, há uma tendência à redução da produção, demissões e até fechamento de unidades.
Outro fator crítico é o câmbio. A Selic alta atrai capital estrangeiro especulativo, valoriza o real e prejudica a competitividade da indústria nacional, especialmente frente aos produtos importados. Por fim, também desestimula o consumo das famílias, ao encarecer o crédito ao consumidor. O efeito combinado de retração da demanda e majoração do crédito compromete tanto a produção quanto o emprego.
Em suma, manter os juros em níveis elevados como ferramenta de combate à inflação tem um custo social e econômico danoso, que recai desproporcionalmente sobre a indústria e os trabalhadores formais. É necessário buscar um equilíbrio entre as políticas fiscal e monetária que assegure a estabilidade de preços sem asfixiar a atividade produtiva”, conclui o presidente do Ciesp.