A imprensa britânica e norte-americana tem uma tradição interessante: publicar notícias absurdas no Dia da Mentira, 1º de abril, data que inaugurou este mês, mais um em que nós, empresários e trabalhadores brasileiros, seguimos matando um leão por hora para seguir em frente. Sim, nosso país exige muita resiliência, força e determinação por parte daqueles que mantêm a economia viva.
Em 1957, a BBC inglesa noticiou que suíços estavam colhendo espaguete em árvores. Em 1983, a revista britânica New Scientist publicou matéria anunciando o cruzamento genético bem-sucedido, feito por cientistas alemães, entre a raça bovina e os tomateiros. O fruto resultante, o boimate, era um suculento filé ao sugo, pronto para ser degustado. Bastava aquecê-lo em fogo brando. A notícia, inadvertidamente, foi publicada como verdade, muito depois do 1º de abril, por um prestigiado veículo brasileiro, que se desculpou com os leitores. Mas, esta é outra história...
Como referência à data e externando tudo o que desejo com sinceridade para nossa Pátria amada, decidi realizar um exercício de redação análogo aos textos bem-humorados dos jornalistas de língua inglesa...
Pois bem, caros leitores. Neste abril, acordamos no outono de um Brasil onde o governo, num passe de mágica (ou de competência), zerou o rombo fiscal, e ainda sobrou dinheiro para investir em saúde, educação e até em um cafezinho melhor para os servidores públicos. O SUS está tão eficiente que os gringos estão marcando "férias médicas" no País. O ensino público virou referência. As escolas, com professores e funcionários bem-remunerados, agora têm excelência pedagógica, informatização, merendas de alto nível e ótimas instalações.
A infraestrutura? Impecável! As rodovias encontram-se tão boas e sem buracos e a
consciência no trânsito evoluiu tanto que até as lombadas eletrônicas foram desativadas, por falta de propósito. Os aeroportos funcionam muito bem e sem atrasos, os trens de carga chegam no horário e já resgatamos os de passageiros, que estavam extintos. Nos portos e em todas as alfândegas, o desembaraço é ágil e desburocratizado. Ah, ninguém mais precisa rezar antes de entrar nos transportes coletivos ou pegar uma estrada. Deixamos de figurar no topo do ranking mundial de acidentes.
A justiça, antes lenta e imprevisível, agora é tão ágil que processos que levavam 10 anos são resolvidos em 10 minutos. Habemus segurança jurídica e previsibilidade para planejar as empresas e investir. E sem fumaça branca ou de qualquer cor nas áreas urbanas, pois concluímos com êxito a transição energética. O "Custo Brasil" encolheu tanto que as empresas estrangeiras estão fazendo fila para investir aqui. O acesso ao crédito é amplo e fácil para pessoas físicas e jurídicas e os juros caíram a ponto de o agiota da esquina ter migrado para o mercado de ações.
A violência? Quase vencida! Uma combinação eficaz de políticas públicas de educação, inclusão, inteligência policial e bom senso fez o crime despencar. Os bandidos renderam-se à evidência de que não compensa. Muitos, depois de cumprirem pena, estão trabalhando honestamente com marketing digital, mercado muito forte num país desenvolvido como o nosso.
A desigualdade diminuiu muito e acabou o déficit habitacional de sete milhões de moradias. Também universalizamos o saneamento básico, água e esgotos. O meio ambiente respira aliviado: a Amazônia está mais verde do que nunca e o Pantanal virou um santuário e ponto turístico de jacarés felizes. O Brasil, finalmente, saiu do limbo da renda média e se transformou em economia de alto poder aquisitivo.
Até o futebol melhorou. Nossa seleção voltou a ganhar da Argentina e deixou de empatar em casa com a Venezuela.
Fake news, utopia ou um projeto viável de Estado e de país? Pensando bem, nada disso é impossível. São só escolhas. Então, em vez de rirmos das mentiras, que tal começarmos a trabalhar com firmeza e persistência para que o Brasil desenvolvido de nossos sonhos converta-se em imensa verdade? Afinal, decidir qual será o futuro de nossa história só depende de nós.
*Rafael Cervone é o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).