Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp
Um dos maiores desafios econômicos do Brasil é melhorar a sua competitividade. Infelizmente, esta é uma batalha que vem sendo perdida ano após ano. Na semana passada, foi divulgado o Anuário de Competitividade Mundial do IMD, elaborado pelo IMD Competitiveness Center, sediado na Suíça e que tem, no Brasil, parceria com o Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral.
Entre os 64 países analisados, o Brasil ficou em 60º lugar. Isso significa que o ambiente econômico brasileiro é o quinto menos competitivo, ficando à frente apenas de África do Sul, Mongólia, Argentina e Venezuela. Em relação ao ranking do ano passado, o país perdeu uma posição, em função da entrada do Kuwait na lista – que ficou melhor posicionado que o Brasil.
Se o retrato não é bonito, menos ainda é o filme. Preocupa muito o fato de o Brasil vir perdendo posições desde 2011, quando atingiu seu melhor resultado. Ficou em 38º lugar de uma lista de 58 países naquele ano.
O ranking é resultado da combinação de mais de 300 dados econômicos e sociais dos países juntamente com a percepção de mais de 6 mil executivos entrevistados. Pelo segundo ano consecutivo, é liderado pela Dinamarca. Mesmo com sua elevada carga tributária (45% do PIB), o país nórdico está no topo porque se destaca por sua atuação consistente em educação e inovação, além dos marcos regulatórios bem transparentes.
O segundo lugar ficou com a Irlanda, que avançou nove posições desde o ano passado. Todos os países da América Latina estão no pelotão de baixo. O melhor colocado é o Chile, que ficou em 47º lugar.
O IMD analisou o desempenho dos países em quatro categorias: ‘performance econômica’, única em que o Brasil melhorou (subiu sete posições e está em 41º lugar); ‘eficiência governamental’ (caiu uma posição e está em 62º lugar); ‘infraestrutura’ (caiu duas posições e está em 55º lugar); e ‘eficiência corporativa’ (caiu nove posições e está em 61º lugar).
Ou seja, quando o tema é eficiência, do setor público ou das empresas, estamos na lanterna. Aliás, a queda de nove posições na ‘eficiência corporativa’ foi o que mais impactou o resultado geral do país. No indicador específico de eficiência e produtividade das companhias, o Brasil caiu da 59ª posição, em 2022, para a 63ª. Nunca o desempenho foi tão negativo neste indicador.
Outro péssimo resultado é no item educação, no qual o país está em último lugar. Vale ressaltar que não há como vislumbrar um avanço sustentado na competitividade nacional sem melhorar o nível educacional da população. É um obstáculo enorme, uma vez que a pandemia foi mais um choque negativo neste que é um grande calcanhar de Aquiles do país há décadas.
A educação, inclusive, é um dos quatro pontos abordados pelo estudo do IMD como um dos desafios para o Brasil melhorar a sua competitividade. Outro é o emprego, com o investimento na criação de novas vagas a partir do aumento da produção.
Por fim, o anuário coloca como desafios também a realização da Reforma Tributária, para simplificar o sistema, e a adoção de um marco fiscal que conjugue responsabilidade nas contas públicas com gastos sociais. Esses dois últimos itens estão sendo endereçados e, indo adiante, farão o Brasil dar um salto de qualidade.
O IMD vê boas perspectivas para o Brasil na nova era econômica que se inicia, com foco na transição energética e na economia verde. O país ficou, por exemplo, na 27ª posição em acordos multilaterais para redução de impactos ambientais.
Se acertar as questões básicas que atravancam seu desenvolvimento, o Brasil tem boas oportunidades à frente. Não podemos deixar que sejam desperdiçadas.