Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP
Entre as primeiras revelações do Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mais preocupantes são o acentuado envelhecimento na população combinado com o menor crescimento populacional da história.
Em 2012, metade dos brasileiros tinha menos de 30 anos. Agora, este contingente corresponde a 43,3% da população. Já o percentual de idosos (com 60 anos ou mais) passou de 11,3% para 15,1% da população, nesses dez anos, conforme dados do IBGE. A expectativa de vida dos brasileiros chegou a 77 anos, quando em 1950 era de 48 anos.
Ao mesmo tempo, a taxa de fecundidade vem caindo fortemente. Era de seis filhos por mulher nos anos 1960 e agora está um pouco abaixo de dois, menor que taxa de reposição de 2,1 filhos por mulher. Na Europa, este movimento levou um século para acontecer. E por que isso é preocupante?
Porque a transição demográfica no Brasil, com redução da população economicamente ativa em relação à inativa, está acontecendo de forma acelerada, com mais velocidade do que ocorreu em países europeus, impactando fortemente a economia, a previdência social e o sistema de saúde nacionais.
Em outras palavras, o Brasil está perdendo o bônus demográfico, o momento em que um país tem mais pessoas em idade para trabalhar e produzir do que idosos e crianças.
O bônus demográfico é o momento ideal para os países darem um salto, crescerem e ingressarem no rol das nações desenvolvidas, com melhora de renda e bem-estar da população. Países asiáticos, como a Coreia do Sul, conseguiram aproveitar o bônus e alcançaram este nível.
Se o Brasil passar a ser um país de idosos antes de se desenvolver, dificilmente conseguirá atingir este patamar, uma vez que não terá mais a força de trabalho necessária para se tornar um país de renda alta.
A janela está se fechando. Segundo especialistas, o bônus brasileiro começou na década de 1970 e chegou ao ponto máximo entre 2015 e 2020. Infelizmente, o auge do bônus brasileiro coincidiu com um momento bastante turbulento do país, com uma profunda recessão, crise política e, por fim, a pandemia de Covid-19.
Para aproveitar o que ainda resta do bônus demográfico, o Brasil precisa agir logo. É necessário investir fortemente em educação, tanto na formação básica quanto no ensino profissionalizante, para que as pessoas cheguem qualificadas ao mercado de trabalho, melhorando a produtividade da economia, que está estagnada.
É um desafio hercúleo, mas que precisa ser enfrentado. A qualidade da educação pública brasileira (onde estão 80% dos estudantes) é historicamente ruim. Nos últimos anos, surgiram algumas ilhas de excelência, como o Ensino Fundamental no Ceará ou o Ensino Médio em Pernambuco. Mas, no geral, o cenário preocupa, até porque a pandemia resultou em perdas importantes de aprendizado que levarão tempo para serem recuperadas.
Além disso, é grave constatar que um a cada cinco dos nossos jovens de 15 a 29 anos não estuda nem trabalha, de acordo com o IBGE. São brasileiros no auge da idade produtiva, que poderiam contribuir para o desenvolvimento do Brasil, mas não têm oportunidades nem qualificação.
O Brasil precisa de políticas públicas estruturadas, bem-feitas, para melhorar o nível educacional do país e, sobretudo, para incluir esses jovens “nem nem” – em sua maioria de baixa renda – na população economicamente ativa.
Não há milagre. Sem foco no que é essencial, estaremos condenados a ser um país envelhecido de renda média.