01/08/2025 - O calendário deste mês impõe à humanidade uma pausa para reflexão. Ao completar 80 anos, os bombardeios nucleares de Hiroshima, no dia 6, e Nagasaki, no dia 9 de agosto de 1945, permanecem como símbolos máximos da barbárie e da brutalidade que somos capazes de infligir uns aos outros. São também alertas perenes sobre a urgência de se preservarem a paz, o diálogo e a diplomacia como fundamentos da convivência internacional.
No entanto, nesse triste marco da História, o mundo depara-se novamente com o recrudescimento das tensões globais, promovido por lideranças políticas que parecem ter esquecido as lições do passado.
Vários fatores colocam o planeta diante de um cenário de complexidade crescente: a persistência de confrontos bélicos prolongados e devastadores, como odecorrente da invasão da Ucrânia pela Rússia; os embates incessantes no Oriente Médio e na África; o estado de guerra latente nas Coreias; e, mais recentemente, a escalada de disputas econômicas e tarifárias,em alguns casos sem precedentes nas democracias ocidentais.
São sérios os riscos de aumento das hostilidades, perdas humanas irreparáveis e graves consequências do acirramento das disputas econômicas. Um exemplo é a tarifa adicional de 40%, totalizando 50%, estabelecida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a importação de numerosos produtos brasileiros, em vigor a partir de 6 agosto, mesmo dia, aliás, em que Hiroshima foi brutalmente atacada há 80 anos.
A medida, sem respaldo técnico ou justificativas econômicas plausíveis, adotada por questões políticas de um Brasil polarizado e numa questionável ingerência estrangeira, terá efeitos impactantes. Será um dano sem fronteiras, pois não só os brasileiros, mas também os norte-americanos sofrerão as consequências. A ampla investida tarifária dos Estados Unidos contra o Brasil e numerosos países está mudando de modo abrupto o perfil do comércio internacional, que vai se tornando um terreno minado.
Os organismos multilaterais, criados justamente para prevenir e mediar conflitos, como as Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), mostram-se enfraquecidos. Tratados são desrespeitados por seus próprios signatários e acordos atropelados por interesses de ocasião.
As guerras estão tirando vidas, aumentando o número de refugiados e, somadas às questões diplomáticas e comerciais, reverberam na vida de todos os habitantes do planeta. Famílias, trabalhadores e empresas enfrentam os efeitos colaterais das tensões geopolíticas: inflação, insegurança jurídica, encarecimento de alimentos, insumos e combustíveis, retração de investimentos e interrupções em cadeias globais de suprimento. O ambiente dos negócios, que depende de previsibilidade, confiança e estabilidade, é diretamente atingido pela beligerância política.
É também preocupante observar que parecem cada vez mais relegadas a segundo plano algumas questões fundamentais para a sobrevivência digna da humanidade, como o combate às mudanças do clima, a transição energética, a segurança alimentar, a redução da pobreza e o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), Agenda 2030. Governos digladiam-se por tarifas e territórios, enquanto o planeta clama por cooperação.
Diante desse cenário, talvez seja hora de o universo corporativo, que produz riqueza, gera empregos e promove desenvolvimento, assumir um protagonismo mais efetivo. As empresas, as instituições classistas e a sociedade civil organizada têm o dever e o direito de exigir serenidade, racionalidade, respeito aos compromissos internacionais e uma nova visão das lideranças, além de exercer a chamada diplomacia econômica. Nada impede a interação com organizações congêneres de outros países, buscando, perante os governantes, a defesa universal de quem produz e trabalha, como sempre fizeram o Ciesp e a Fiesp, que seguem mobilizados nessa jornada.
Não podemos permitir que a fera ancestral de nossos instintos mais primitivos sobreponha-se à razão. A História já nos mostrou aonde a lógica da destruição pode nos levar. No Século XXI, não temos o direito de repetir os erros do passado.