Produção Industrial recua 0,3% em janeiro, refletindo os efeitos do forte aperto monetário
- Atualizado emAgência Indusnet Fiesp
A produção industrial recuou 0,3% em janeiro, em linha com as expectativas do mercado, sem efeitos sazonais. Frente a janeiro de 2022, houve crescimento de 0,3%. O resultado foi puxado pela queda na indústria de transformação (-0,8%), dado que a indústria extrativa aumentou na passagem mensal (+1,8%). Com os últimos resultados, a atividade industrial segue defasada em 2,3% em relação ao nível pré-pandemia (fev/2020) e 18,8% na comparação com o recorde da série histórica (maio/2011).
Gráfico 1: Produção Industrial – Média móvel de três meses
Base: 2022 = 100
Fonte: elaboração FIESP a partir de dados do IBGE[/caption]
A queda na atividade industrial na passagem para janeiro foi espraiada em três das quatro categorias econômicas e 11 dos 25 segmentos pesquisados. Entre os grupos de atividade, as influências negativas mais relevantes no mês de janeiro foram produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-13,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-6,0%), produtos alimentícios (-2,1%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,5%). Por outro lado, indústrias extrativas (+1,8%) foram o grande destaque positivo.
Em relação às grandes categorias econômicas, na comparação com o mês anterior, sem influências sazonais, a maior queda foi observada no setor de bens de capital (-1,6%), seguida por bens de consumo duráveis (-1,3%) e bens intermediários (-0,8%). Por outro lado, a única categoria que não registrou queda foi a do setor de bens de consumo semi e não duráveis (+0,1%).
Desde quando o Banco Central começou a subir a taxa Selic (mar/2021), as categorias com a maior perda em termos de produção industrial foram a de bens de consumo duráveis (-4,8%) e a de bens de capital (-4,7%), seguidas pelo setor de bens intermediários (-3,6%). O único setor que acumula crescimento positivo na mesma comparação é o de bens de consumo semi e não duráveis (+2,3%).
Gráfico 2: Produção Industrial – Categorias de Uso
Var. % em relação a mar/2021
Fonte: elaboração FIESP a partir de dados do IBGE
Análise do cenário pela FIESP
A partir dos últimos resultados reportados pelo IBGE, é notório que uma recuperação mais forte do setor vem sedo limitada pelo cenário econômico desfavorável. A atividade industrial reflete os efeitos do forte aperto monetário, com risco de agravamento desse quadro nos próximos meses.
Para avaliar os impactos entre os setores, a FIESP desagregou o Indicador antecedente da indústria de transformação (IAT) por categorias econômicas. Esse indicador busca antecipar os ciclos de expansão e desaceleração da indústria de transformação brasileira com ao menos 6 meses de antecedência. Considerando as informações até fevereiro, o IAT aponta para um cenário mais negativo ao longo do 1º semestre de 2023, principalmente em setores mais sensíveis à política de juros, como bens de consumo duráveis e bens de capital.
Fonte: elaboração FIESP
Outra forma de avaliar esses impactos é através do mapa de calor da produção industrial por atividades. O mapa mostra que, na indústria de transformação, 13 atividades estavam acelerando (Forte + Muito Forte) e 5 atividades desacelerando (Fraca + Muito Fraca) em janeiro de 2022. No mesmo período de 2023, esse resultado foi revertido, com apenas 5 atividades acelerando e 10 arrefecendo. Chama atenção o espraiamento do processo de desaceleração setorial, sobretudo em setores mais sensíveis ao crédito, como móveis e minerais não-metálicos. Essas informações podem ser visualizadas na figura abaixo:
Figura 1: Mapa de calor da Indústria (Jan/22 – Jan/23)
Fonte: elaboração FIESP a partir de dados do IBGE
A expectativa de baixo dinamismo da economia brasileira em 2023 tende a influenciar esse processo de desaceleração da produção industrial devido aos impactos nas decisões de investimento e consumo. Esse processo tende a ser mais intenso para setores sensíveis ao aumento de juros. Nesse cenário, a FIESP projeta queda de 0,5% da atividade industrial em 2023, que, se confirmada, será a sétima em 10 anos.