Outubro rosa: o melhor remédio ainda é a prevenção
- Atualizado emSolange Sólon Borges, Agência Indusnet Fiesp
A Fiesp e o Ciesp lançaram várias ações, nesta quarta-feira (5/10), para celebrar o Outubro Rosa, que marca o mês de conscientização em relação ao câncer de mama. O objetivo é alertar para a importância da realização de exames periódicos de modo a detectar precocemente qualquer alteração nos seios. Foram apresentadas boas práticas de empresas e debatidos temas como sexualidade, rede de apoio, tratamento e legislação. Na calçada da Fiesp, foi realizada campanha de doação de mechas de cabelos. No ano passado, foram 105 doações, neste ano, 301.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), registram-se mais de 66 mil novos casos de câncer de mama por ano no Brasil. E, nos últimos dois anos, a ocorrência em mulheres com menos de 35 anos representou 5% do número total de casos, sinal da necessidade de monitoramento cada vez mais precoce, especialmente se há casos já detectados na família, além da alta incidência em mulheres negras.
Em reunião do Conselho Superior Feminino (Confem) da Fiesp, a presidente Marta Lívia Suplicy ressaltou a importância de as participantes serem propagadoras das informações: “Informação é palavra-chave”, disse. Marta lembrou que muitas das mulheres acometidas pela doença estão em idade economicamente ativa e passam grande parte do tempo nas empresas. A produtividade e o bem-estar no ambiente de trabalho estão diretamente ligados à saúde dessas profissionais. Outros aspectos são a atenção à sexualidade com reflexo na autoestima e o fato de muitas mulheres mastectomizadas serem abandonadas pelo companheiro, temas tratados também pelas médicas convidadas para o evento.
Para Debora Cristina Inglesi, coordenadora de Saúde e Bem-Estar do Sesi e Senai-SP, a educação é a melhor forma de prevenção, pois desta forma busca-se diagnósticos precoces entre funcionários, alunos e usuários das entidades. “São 18 mil funcionários, sendo mais da metade de mulheres. É preciso falar também da parte emocional, do autocuidado e o que as empresas, a indústria, podem fazer para auxiliar nesse aspecto”, disse.
Direitos do paciente com câncer
No primeiro painel, foram debatidos os direitos das pacientes com câncer. A presidente do Conselho Superior de Relações do Trabalho (Cort) da Fiesp, Maria Cristina Mattioli, avalia que o tema está bem encaminhado no âmbito da Justiça, com jurisprudência constituída.
Mattioli destacou a legislação específica, como a Lei 12.732/2012, a chamada Lei dos 60 dias, que garante a realização dos exames necessários para confirmação do diagnóstico do câncer e 60 dias para início do tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS); a Lei 12.802/2013, que garante a reconstrução mamária na rede pública às mastectomizadas; a Lei 13.767/2018, que regulamenta a ausência de trabalhadoras para a realização de exames preventivos; e, mais recentemente, a Lei 14.335/2022, que amplia o texto da Lei da mamografia e de câncer de colo de útero pelo SUS.
Mattioli ainda detalhou a Lei 14.238/2021, que institui o Estatuto da Pessoa com Câncer. São direitos o diagnóstico precoce, tratamento, assistência social e jurídica, prioridade de tratamento, proteção e bem-estar social, acolhimento, tratamento domiciliar priorizado, entre outros pontos. Entre os benefícios existentes, além de 15 dias de afastamento ou acesso ao auxílio-doença, requerer aposentadoria por invalidez quando permanentemente incapacitada.
Ela explicou ainda que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garante às trabalhadoras folgas de até 3 dias a cada 12 meses de trabalho para a realização de exames preventivos. No caso de doença, no retorno ao trabalho, se houver sequelas, cabe pedido de readequação de função e/ou local de trabalho, sem redução salarial.
Há vários benefícios garantidos em lei que nem sempre são de conhecimento dos pacientes, como o saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), do Programa de Integração Social (PIS), do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), além da prioridade na tramitação de processos judiciais pendentes. E, ainda, a Isenção do Imposto de Renda (em caso de aposentadoria, pensão ou reforma) e do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), benefício regulamentado em muitos estados brasileiros. Há ainda a possibilidade de quitação da casa própria e o saque de seguro de vida e Previdência Privada, se isso estiver previsto em contrato.

Diagnóstico e acolhimento
No painel seguinte, sobre a importância do diagnóstico, a médica Albertina Duarte Takiuti, ginecologista e obstetra, lembrou que a cada 23 minutos morre uma mulher de câncer de mama. São 22.500 mortes anuais de mulheres e de 314 homens – sim, os homens também podem ter a doença. “É uma guerra. É preciso dar conta do diagnóstico precoce para que nenhuma mulher morra. O autoexame é fundamental. O diagnóstico é feito por 70% das mulheres que percebem que algo se alterou”, enfatizou a médica.
Trata-se da causa mais frequente de câncer em mulheres no país. “O câncer de mama é democrático, atinge todas as camadas, mas é desigual em termos de atendimento”, contextualizou Albertina. Esse tipo de câncer é temido pelas mulheres não apenas pela sua alta frequência, mas pelos efeitos psicológicos provocados que afetam aspectos da sexualidade, da autoimagem e da maternidade.
A médica também discorreu sobre os fatores de risco e defendeu o atendimento psicológico pelo serviço público, além da antecipação da faixa etária da realização da mamografia, especialmente diante de casos confirmados na família. Ela sugere que o primeiro exame deste tipo seja feito aos 35 anos se há histórico na família, ou 10 anos antes da idade da familiar que teve a doença, e anualmente a partir dos 40 anos para mulheres sem histórico entre os parentes próximos. Para ela, tensões emocionais, pressão, alimentação inadequada, traumas e depressão também são fatores de risco, além dos genéticos.
Albertina também disse que problemas afetivos são mais frequentes para essas pacientes. Segundo pesquisa do Hospital das Clínicas de Barretos (SP) e do Centro Oncológico Americano MD Anderson Câncer Center, 40% das mulheres em fase de quimioterapia ou radioterapia sofrem rejeição sexual ou são abandonadas pelos companheiros e 66% das mulheres têm o trabalho interrompido (pesquisa US/LA CRN – rede de pesquisa sobre câncer).
Há pacientes que, além de ter de conviver com sua transformação física, enfrentam o afastamento do parceiro, o preconceito profissional e a dificuldade para fazer a cirurgia de reconstrução mamária. E tudo isso em um momento de fragilidade. “A mulher não é um peito, é um todo”, concluiu Albertina Duarte, frisando que, mesmo com as marcas da cirurgia, a mulher está viva, forte e continua seguindo em frente.
Para tratar dos aspectos relacionados à sexualidade, a ginecologista Maria de Fatima Duarte, lembrou que sexualidade é contato, é qualidade de vida e engloba valores como intimidade, direitos sexuais e reprodutivos. Em sua experiência clínica, o câncer de mama impacta todos os pilares femininos. Mas, como a vida é feita de construção e reconstrução, é preciso ressignificar o fato até porque mais de 50% das mulheres tratadas sobrevivem, conforme explicou a especialista.
A médica falou das estratégias para orientar sobre a saúde sexual, promover a escuta e o autoconhecimento sobre crenças, valores, pensamentos disfuncionais, auxiliar a mulher a elaborar as perdas biopsicossociais para amenizar o sofrimento. Segundo ela, “não medicalizar a sexualidade”.
De dentro para fora
No painel de encerramento, sobre o papel das organizações empresariais, Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon, refletiu sobre os impactos da pandemia: 70% das mulheres, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) deveriam ser alcançadas pelo rastreamento assintomático. O Brasil nunca chegou perto desse número. Antes da pandemia, o percentual era de 23% e depois, caiu para 17%. E os procedimentos relacionados aos esclarecimentos sobre o diagnóstico alcançou 40% das mulheres no primeiro ano da pandemia e 20% no segundo.
Outro fenômeno foi a confiança que se estabeleceu no ambiente corporativo. Segundo pesquisa citada por ela, com a queda da confiança na mídia, nos governos, nas ONGs e até na ciência, o empregador surgiu como figura confiável. “Aí reside a responsabilidade das empresas com as suas mulheres”, afirmou.
O câncer de mama é a 1ª causa de mortalidade da mulher que entre 40-49 anos e a 2ª causa na faixa de 50-59 anos, segundo o Ministério da Saúde. “E onde está essa mulher? Esta mulher está ao nosso lado na família e nas empresas”, disse Daniela, ao enfatizar a necessidade de promover informação de dentro para fora e acompanhá-la em uma rede de proteção e afeto para que perceba que não está sozinha e que a vida dela importa.
O papel da indústria foi trazido por Claudio Viggiani, presidente do Instituto Aihpec (Associação Brasileira de Produtos da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), que apresentou o projeto “De Bem com Você, a Beleza contra o Câncer”, iniciado há dez anos, implantado em 17 estados, com 60 parcerias, e mais de 8 mil atendimentos. São oficinas de automaquiagem, em função do impacto que o tratamento causa à autoimagem e à autoestima. “A mulher tem muitas responsabilidades, mas precisa também de tempo para se olhar no espelho”, afirmou. E lembrou que a indústria da beleza é importante, pois restitui a autoestima em um momento difícil.
O papel dos homens no apoio à mulher com câncer de mama foi abordado por Luiz Gebrim, diretor do Centro de Referência da Saúde da Mulher do Hospital Perola Byington-SP. É preciso diferenciar, na fila de espera, pacientes que detectaram algo daquelas que nada acusaram.
Por fim, Hugo Lenzi, fotógrafo, jornalista e autor com Vera Golik do livro De Peito Aberto, projeto iniciado em 2006 para promover a autoestima das pacientes, também deu seu depoimento. Ele contou que levou 7 anos para conseguir fotografar um homem com câncer de mama, uma doença considerada ‘de mulher’ e tratada por ginecologistas. “É fundamental mudar a educação nas famílias, nas escolas, na sociedade para que se tenha uma rede de apoio e medicina, cada vez mais especializada, não tratar tanto a doença, mas sim a pessoa”, concluiu.
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