Fiesp e Sebrae-SP lançam 2ª temporada do programa Elas na Indústria
- Atualizado emSolange Sólon Borges, Agência Indusnet Fiesp
Nesta segunda-feira (26/9), a Fiesp e o Sebrae-SP assinaram convênio e lançaram o programa gratuito e exclusivo voltado às mulheres da indústria. A iniciativa Elas na Indústria, em sua segunda temporada, está alicerçada em mentoria e capacitação. O objetivo é impulsionar carreiras e negócios, mas, especialmente, promover a equidade de gênero no ambiente industrial.
Na abertura do evento Marta Lívia Suplicy, presidente do Conselho Superior Feminino da Fiesp (Confem), lembrou que é preciso ajudar as mulheres na outra ponta, na indústria, a fim de promover o fortalecimento e o empoderamento, a capacitação. Suplicy enfatizou essa “pauta feminina, que contempla outros conceitos, como os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), ESG (Governança ambiental, Social e Corporativa), que são transversais e andam juntos nesta casa” ao tratar da equidade.
“Já existe um trabalho junto ao comércio, com tradição de absorver mais profissionais mulheres, mas a indústria ainda não e por isso é um pioneirismo esse convênio que está sendo assinado hoje. Não se trata só de capacitação, o que nos deixa muito mais entusiasmadas. Essa parceria é fundamental para desenvolver um trabalho com melhor resultado e os homens que a apoiam são responsáveis pelo sucesso no coletivo”, afirmou Suplicy.
Para Marco Vinholi, diretor superintendente do Sebrae-SP, representando Tirso Meirelles, presidente da entidade, o Programa Elas na Indústria significa quebra de paradigma. As mulheres que empreendem têm taxa de sucesso maior do que os negócios encabeçados por homens. “As mulheres têm olhar forte de empreendedoras no estado de São Paulo e no país. Essas 400 mulheres que vão ser apoiadas e qualificadas com todos os produtos do Sebrae-SP significarão um case de sucesso”, disse ele, na expectativa de um próximo ciclo do programa em 2023.
Vinholi frisou que as etapas estabelecidas – diagnóstico, mentoria, orientação, acesso ao crédito –, para que as mulheres ingressem em cargos de alta direção ou sejam gestoras do próprio negócio, não significam apenas a valorização da mulher mas, sim, da própria indústria e do empreendedorismo.
Sylvio Araujo Gomide, diretor titular do Departamento da Micro, Pequena, Média Indústria e Acelera Fiesp (Dempi Acelera) fez uma avaliação do cenário futuro. Quem está hoje no Ensino Fundamental irá se deparar, daqui a dez anos, com a redução de 60% das vagas ofertadas atualmente pelas empresas, pois elas não sobreviverão em um mundo impactado pelas startups e sob influência da inovação, o que significará capacidade de adaptação para as novas gerações. Outras mudanças foram provocadas pela pandemia de Covid-19: nos últimos 2 anos mais de 50% dos novos negócios foram fundados por mulheres, segundo pesquisa realizada pelo Sebrae e pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM).
Gomide revelou que a iniciativa da Fiesp, Central de crédito, em parceria com mais de 28 instituições financeiras, quase 30% dos valores tomados foram destinados às mulheres. O diretor do Dempi Acelera acrescentou que, em 2019, na América Latina 1/3 dos aportes foi alocado a startups tocadas por mulheres; antes, esse índice era de 16%. “Esses dados sinalizam não apenas o emprego do futuro, mas as oportunidades possíveis”, refletiu.
Grácia Fragalá, vice-presidente do Confem, disse que “o programa trata de inclusão produtiva de mulheres, porque isso é bom para os negócios. As mulheres fazem negócios de maneira diferente, elas impulsionam a economia de forma diferente. Então, nosso objetivo ao criar o ELAS NA INDÚSTRIA é capacitar e ampliar o número de mulheres na operação industrial, na liderança e fortalecer as mulheres empreendedoras, desde as sucessoras até as nanoempreendedoras”. “A essas nanoempreendedoras vamos oferecer o acesso ao nanocrédito”, complementou Juliana Farah, também do Confem, que somou o gerenciamento das emoções e a inteligência emocional como temas incluídos nessa parceria.
Já Andrea Cruz, CEO da Serh1 Consultoria lembrou a importância em poder contribuir com a capacitação: “A gente está formando uma comunidade de empresárias que poderá impactar outras mulheres e a comunidade na qual elas vivem. É importante ter bem clara a importância desse coletivo. Quando eu falo de menos de 10% de mulheres presentes na indústria é possível perceber o poder dessa mentoria. Em um recorte racial, 5% de mulheres negras chegam a posições executivas. Por isso, é preciso ter clareza da nossa responsabilidade.”
Saiba mais sobre como se inscrever no Elas na Indústria neste link.
A diretora titular do Ciesp de São José dos Campos, Alexandra Gioso, enfatizou as mulheres eleitas para a diretoria feminina do Centro das Indústrias que proporcionarão um olhar feminino para o estado de São Paulo, promovendo impacto regionalmente e trazendo oportunidades localmente. Ela apresentou a iniciativa da Bayer, na cidade, Elas na Bayer, que resultou não apenas em sinergia, mas na obtenção de equidade de gênero na operação da empresa.
Nunca o tema teve tanta evidência, pontuou Cassia Cruz, gerente de educação do Senai-SP, ao tratar da capacitação em sua parte prática e teórica: “Formamos mais mulheres do que a indústria consegue absorver”, avaliou, ao tratar da somatória educação, tecnologia e capacitação.
E apresentou o case Costurando sonhos em Paraisópolis, com mais de 600 capacitadas e empreendedoras também conectadas a empresas. Mais o Code Experience, em parceria com a JP Morgan, desenvolvedor Full Stack, com 260 alunos capacitados, sendo 55% deles mulheres, indicando outra quebra de paradigma: que elas não têm vocação para a tecnologia. “Mas as mulheres precisam entender que são capazes e pertencentes a esta área,” disse Cruz, quando se trata de indústria 4.0, inclusive.
Integraram o painel A Voz delas, Juliana Reinhardt, gerente de Marketing na Trane Latin America, e Graciele Davince, empresária, ambas mentoras do projeto-piloto do Elas na Indústria. Carmosinda Santos, técnica de ar-condicionado e participante do projeto-piloto de mentoria Elas na Indústria, reafirmou o quanto a iniciativa é importante para a sociedade. Formada pelo Senai-SP, engenheira mecânica, atuando há 14 anos na área de ar-condicionado, é ícone do setor.
“Antes de existir uma mulher engenheira, tem uma mulher do Itaim Paulista que precisou de oportunidade e apoio de outras mulheres para chegar ao Senai-SP, também para conseguir um estágio em uma multinacional” e retratou os obstáculos que precisou superar em um ambiente predominantemente masculino. Dar o direito de a mulher trabalhar é dar a ela dignidade para que não tenha de pedir absolutamente nada ao marido, acrescentou, que ainda frisou as responsabilidades femininas que precisam de horários e diferentes olhares, concluiu Carmosinda Santos.

ONU Mulheres no Brasil
Daniele Bulmini Pires de Godoy, da ONU Mulheres Brasil, tratou da equidade de gênero nas empresas e os consequentes resultados financeiros. A autoridade global da ONU promove a equidade por estar presente em 132 países, com repercussão na vida de um milhão de mulheres. “Traz o gênero para o centro da pauta de discussão, pois impacta todas as áreas, o número 5 dos ODS, e cria normativas em espaços onde eles não existem”, disse. O n. 5 dos ODS traz: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas; Acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda parte.
Ao tratar da diversidade em números, Godoy lembrou que a população brasileira é composta por 56,3% de pretos e pardos, mas apenas 6,93% deles em posições de gerência, quadro que pode ser revertido por meio da capacitação e conscientização. Na pandemia, o impacto foi diferenciado para homens e mulheres. “Elas sofreram mais violência doméstica, foram mais afetadas economicamente e estiveram ausentes de espaços de decisão. Além do mais, estavam empregadas em setores que sofreram mais com as medidas adotadas de isolamento social: serviços, turismo, restaurantes”, completou.
As mulheres também dedicaram mais tempo ao trabalho doméstico e ao cuidado com outras pessoas, o dobro do realizado pelos homens: 21,4h contra 11 horas semanais, o que afetou sua inserção no mercado de trabalho e no desenvolvimento de sua carreira. E foram 22 h semanais de dedicação das mulheres negras frente às 20,7 h semanais das mulheres brancas. O salário da mulher da mulher representa 77% o do homem e a diferença é ainda maior quando se trata de cargos de liderança, segundo os números trazidos pela representante das Nações Unidas.
“O que estamos fazendo aqui é capacitar e treinar mulheres desde a base da indústria para que se enxergue a liderança como um futuro possível”, disse. A cada 1% a mais de diversidade na força de trabalho há um aumento de 3% no faturamento da empresa. De acordo com ela, R$ 461 bilhões seriam inseridos na economia se houvesse o equilíbrio do salário entre homem e mulher.
Godoy ainda lembrou que aproximadamente 80% dos empregos do país estão em empresas públicas e privadas, um elemento transformador das empresas no mundo do trabalho e da responsabilidade social corporativa. “O apoio da indústria promove uma transformação mais profunda conectada com o planeta que queremos construir”, concluiu.
O evento foi encerrado com a fala de Luciana Freire, diretora executiva jurídica da Fiesp, ao representar uma das executivas em cargo de alta liderança na Federação e incentivadora da criação do Conselho Superior Feminino, o Confem.