De “ressaca”, atividade industrial paulista tropeça em junho
- Atualizado emEm ritmo acelerado de expansão desde março de 2009, quando a economia brasileira começou a se recuperar da crise financeira, a atividade industrial paulista deu um respiro em junho. A queda de 0,6% no Indicador de Nível de Atividade (INA), já livre de influência sazonal, quebrou a sequência de 15 meses em alta. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (28) pelo Ciesp e a Fiesp.
Sem ajuste sazonal, a baixa em relação a maio foi de 0,3%, a pior para o mês nos últimos três anos. Mas para Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) das entidades, não há motivos para enxergar o resultado como um fator negativo na economia.
“Houve uma interrupção na trajetória de ascensão, mas não vemos motivos para uma inversão de tendência. É uma acomodação que talvez dure três meses, no entanto, a partir de agosto devemos recuperar a inclinação para o crescimento continuado da atividade”, avaliou Francini.
No acumulado do primeiro semestre (+14,3%), a indústria paulista computou o melhor resultado da série histórica da pesquisa, iniciada em 2003. Em relação a junho de 2009, o crescimento chega a 9,9%. O nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) ficou praticamente estável em relação a maio, 81,8% ante 82,5%, com ajuste.
Ressaca
Segundo Francini, a redução pontual ocorrida em junho está mais ligada a um período de “ressaca”, com o fim dos benefícios tributários concedidos a alguns setores produtivos, como o de automóveis e a linha branca de eletrodomésticos. O diretor de Economia explicou que a acomodação nos meses seguintes é uma contrapartida da antecipação de compras provocada com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Outro fator é o que Francini chamou de “efeito Copa do Mundo” – os jogos do Brasil, que ocuparam três dias úteis do mês de junho, tiveram influência na baixa de 0,2% nas horas trabalhadas na produção. O total de vendas reais foi outra variável que caiu no mês (-1,9%).
“É um efeito difícil de ser mensurado, mas de alguma maneira existe. Certamente o índice [INA] ficaria mais próximo do zero não fosse ele”, assegurou. Ciesp e Fiesp não mudaram suas projeções para os índices econômicos, e seguem apostando em um crescimento de dois dígitos para a atividade da indústria paulista em 2010, acima de 11%.
Setores
O desempenho de produtos químicos, petroquímicos e farmacêuticos foi negativo nos últimos três meses – entre outros fatores, devido à redução de preços no mercado internacional. E em junho não foi diferente: queda de 0,9% com ajuste.
“O setor passa por uma contínua redução de atividade, não em quantum, mas em valor, em função da entrada de novos agentes ofertantes do Oriente Médio, além do nível de demanda aquém do esperado”, frisou Paulo Francini.
A produção de borracha e plástico, em vigorosa trajetória de retomada, caiu 1% em relação a maio, mais pelo fato de estar ligada à composição de outros setores, como o automobilístico e o de eletrodomésticos. Já o segmento de celulose e papel subiu 0,2% na apuração do último mês.
Mercado
A pesquisa Sensor, o “farol de proa” da Fiesp quanto ao sentimento dos empresários, indica claramente que está ocorrendo uma redução da taxa de crescimento da atividade industrial. O resultado geral de julho alcançou 52,5 pontos, ante 55,1 no mês anterior, e foi o menor desde o embalo de dezembro de 2009.
Os itens mercado (56), vendas (50,9) e estoque (47,6) ficaram estáveis no mês. Já as perspectivas para emprego (54,2) e investimentos (53), atenuadas, puxaram o Sensor para baixo em relação a junho.
“O Sensor nos dá o seguinte panorama: houve uma perda temporária de velocidade, que vai retomar o seu vigor mais à frente. Observamos esse cenário com tranquilidade, não há motivo para temor”, avisou Paulo Francini.
Mariana Ribeiro, Agência Ciesp de Notícias