Custo Brasil: o impacto de juros, infraestrutura e serviços - CIESP

Custo Brasil: o impacto de juros, infraestrutura e serviços

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp

Na semana passada, discorremos sobre como a barafunda tributária brasileira impacta o Custo Brasil na indústria de transformação – custos que tiram a competitividade dos produtos nacionais. Estudo da Fiesp/Ciesp mediu este impacto nos preços dos bens industriais brasileiros, comparativamente ao de concorrentes, entre 2008 e 2019. A conclusão é que nosso sistema de cobrança de impostos acrescenta 13% no preço dos produtos (e a despesa das empresas com plano de saúde, assistência e previdência privada dos empregados mais 0,8%) de um total de 25,4% do Custo Brasil.

A metade restante do Custo Brasil é resultado de outros fatores, como juros, custo de energia, matérias-primas e serviços non tradables (aluguéis, serviços de terceiros, entre outros), além da deficitária infraestrutura. Vale lembrar que o estudo foi feito comparando-se a produção de uma empresa com as características operacionais brasileiras funcionando no ambiente econômico do Brasil e a mesma empresa num ambiente econômico simulado, que representa a realidade média de 15 países parceiros (China, EUA, Alemanha, Argentina, Coreia, Japão, Itália, França, México, Índia, Espanha, Reino Unido, Suíça, Chile, Canadá).

Entre esses outros pontos listados acima, os juros são o que mais pesam, aumentando em 6,1% o preço dos produtos. De 2008 a 2019, a taxa média real de juros da Selic foi de 4,2%, bem superior à média de 0,2% dos 15 países parceiros. Além disso, o Brasil tem spreads bancários elevadíssimos na comparação internacional (dez vezes maiores), seja em crédito livre ou direcionado, seja pessoa jurídica ou física. Ou seja, o financiamento do capital de giro é muito caro aqui.

Privilegiado em recursos naturais, para compensar, o Brasil poderia ter assegurada ampla oferta de energia e matérias-primas a preços competitivos, o que favoreceria a agregação de valor no país. Mas em alguns insumos da produção os preços são maiores, impactando negativamente o Custo Brasil, especialmente neste momento da guerra da Ucrânia e desarticulação das cadeias produtivas por causa da pandemia.

A deficitária infraestrutura logística (rodovias, ferrovias, portos, etc) do país também joga contra a competitividade nacional. O Brasil tem a pior nota do International Institute for Management Development (IMD) neste quesito, não alcançou 4 de média. A Argentina está na nossa frente, bem como outros países emergentes como Índia, que chegou a 5, e México, que beirou o 6.

De fato, a infraestrutura do país está muito aquém de suas necessidades. O chamado estoque de infraestrutura, que é tudo que o país possui em rodovias, hidrelétricas, ferrovias, portos, aeroportos, entre outros, está hoje em cerca de 36% do PIB. Em 1980, representava 56% do PIB, percentual semelhante ao de países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Para retomar o patamar anterior, o Brasil precisaria investir 4,3% do PIB ao ano em infraestrutura, na próxima década. No entanto, não tem alcançado sequer 2% ao ano. Isso impacta diretamente a indústria, pois sem infraestrutura de qualidade não é possível desenvolver o segmento industrial.

Por fim, há os serviços non tradables, como aluguéis e serviços prestados por terceiros, a exemplo de consultoria, auditoria, advocatícios, contabilidade, despachante, limpeza, vigilância, informática. Esses itens são mais caros aqui do que em outros países.

No próximo artigo, falaremos do Custo Brasil e os preços do produto nacional e do importado no mercado doméstico, analisando o impacto do câmbio e da tributação sobre as vendas.